Trotula de Salerno (Itália, 1050. Data de morte desconhecida)
Salerno foi um dos portos mais importantes do sul da Europa, famoso por suas fontes termais e seu intercâmbio científico com o Oriente. A Escola Médica Salernitana, fundada no século 9º, era aberta a mulheres, o que fez dela o berço da ginecologia. Um dos maiores nomes dessa ciência foi Trotta di Ruggiero, conhecida como Trótula de Salerno. Seu trabalho sobre partos, cólicas menstruais e dores mamárias resultou no pioneiro Sobre as doenças das mulheres, um compêndio de remédios à base de ervas. A relevância de Trótula vai além do pioneirismo científico, implicando também sua compreensão das dificuldades de expressão das mulheres sobre problemas íntimos, em um mundo altamente masculinista. Durante séculos, sua obra foi atribuída a homens. Kaspar Wolf, editor renascentista, por exemplo, creditou-a a um escravizado liberto romano, Eros Juliae. A ocultação do trabalho das mulheres foi (e todavia é) uma estratégia de silenciamento de sua produção intelectual e marginalização sociopolítica. Até hoje, debate-se a autoria da obra de Trótula, sob a hipótese de que ela nunca tenha existido e o livro seja uma coletânea de autoras. Essa hipótese, longe de desqualificá-la, a celebra: somos muitas, e todas somos Trótula de Salerno.
Referências:
Deplange, Luciana, and Karine Simioni, eds. Sobre as Doenças Das Mulheres / Trotula Di Ruggiero. Florianópolis: UFSC/DLLE/PGET, 2018.
Moura, Willian Henrique Cândido, and Virginia Castro Boggio. “Da tradução como pagamento de uma dívida histórica: Trotula di Ruggiero, pesquisadora e médica medieval.” Revista Estudos Feministas 29 (June 30, 2021): e72289. https://doi.org/10.1590/1806-9584-2021v29n272289.
“Trotula de Salerno.” In Wikipédia, a enciclopédia livre, October 29, 2021. https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Trotula_de_Salerno&oldid=62331903.